♒ нomε swεετ нσmε!

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sábado

Trair é normal!
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Victor é um menino esperto de 11 anos. Estava no carro com seu pai quando avistou um cachorro na estrada. "Papai, vamos levá-lo para casa. Ele parece doente, precisa de cuidados, e é muito bonito".

Seu pai pensou em uma saída para dar como desculpa. "Não filho, não podemos levar outro cachorro para casa. O Mickey se sentiria traído". Argumentou, falando sobre o outro cão.

"Papai, não seja bobo. Mickey me ama, jamais ficaria sentido comigo por eu compartilhar meu amor com outro cãozinho".

E era verdade. Victor poderia levar dezenas de animais para casa, que Mickey, seu primeiro cão, continuaria a amá-lo. Mickey, afinal, jamais sentira-se-ia traido, uma vez que esse é um sentimento construído pelos seres humanos.

Nós inventamos a traição. Nós inventamos a fidelidade. Egoísta como somos, criamos, por meio de um suposto vínculo afetivo, a obrigatoriedade da exclusividade.

Quando entramos em um plano de uma operada de telefonia celular, geralmente temos um tempo de fidelidade. Esse tempo nos acorrenta com a operadora, nos impossibilitando de sair dela sem desembolsar uma gorda quantia, resultado de uma multa de quebra de contrato.

E porque não dizer que o mesmo acontece em relações interpessoais? As pessoas se conhecem, sentem-se atraídas fisicamente, em seguida se atraem por intelectualidade, sonhos, objetivos, interesses e resolvem unir-se em uma relação afetiva.

Se, por um acaso um dos componentes dessa relação se vê atraído por outra pessoa, inicía-se um grande conflito. Trair e esconder, terminar e fazer o que bem entender ou, por fim, não fazer nada.

Ora, se nos sentimos provocados por outra pessoa, é justo inibirmos nossos sentimentos? Consigo imaginar um sim em uníssono, com o argumento de que uma relação de sentimento vale muito mais a pena do que uma aventura carnal.

Mas que tipo de relação de sentimento é essa que tende a inibir possíveis demonstrações de desejo do parceiro? Não está calcado sobre argumentos egoístas?

Veja, Mickey não rejeitou Victor por trazer o cachorro da rua. Isso porque os animais não são egoístas. E Victor não deixou de amar Mickey porque outro cachorro estava agora sob o mesmo teto. A relação é a mesma com o cachorro primogênito.
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Normal é trair.

Traímos em pensamento, em sonho, em desejo, em vontade. Mas deixamos de trair de forma concreta para não prejudicar o outro. Abafamos nossa pulsão sexual por inúmeros motivos sociais, criamos uma repressão psíquica que pode ser leve, como pode ser pesada, acarretando várias consequências.
Costumamos nos sentir orgulhosos quando não traímos, quando não nos deixamos cair no pecado da carne. É, na verdade, a vitória dos outros sobre si mesmo. Fomos ao longo da vida inteira castrados, adestrados, condicionados a acreditar que certos tipos de comportamento são errados. Um deles, é o de trair.
Bobagem. Se isso não fosse cultural, talvez, grande parte das mazelas de um relacionamento simplesmente não existiria. Se a traição não tivesse sido inventada, poderíamos estar na estrada e nos depararmos com alguém interessante, nos relacionarmos e voltarmos para casa ao encontro de nossos parceiros. Caso semelhante de Victor e Mickey.
Se a fidelidade não fosse uma predominância cultural, os laços afetivos monogâmicos seriam muito mais verdadeiros, baseados em interesse mútuo puro, enquanto que, em nossa realidade, os laços se mantém monogâmicos por uma pressão social.
O que eu quero dizer, em outras palavras, é que se fidelidade não existisse, e você tivesse alguem que firmasse um relacionamento duradouro contigo, e somento contigo, sem casos extraconjulgais, seria apenas pelo seu livre arbitrio, pela sua pura demonstração de afeto. Pois, hoje. deixa-se de trair porque é "errado", ou para não chatear o outro.

Não se deixa de trair por que se ama, ao mesmo tempo que não se trai por que se deixou de amar.
A traição é normal, e a fidelidade, essa sim, é uma merda.

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